O ADEUS DA NAÇÃO ROMEIRA À IRMÃ ANNETTE

Por: Patrícia Mirelly Lima – Jornalista


Partiu para a Casa do Pai, na noite desta sexta-feira, 21 de maio, em Juazeiro do Norte (CE), a Irmã Annette Dumoulin, a madrinha dos romeiros, às vésperas de completar 86 anos. A religiosa belga, de alma sertaneja, fez do Brasil a sua segunda pátria quando desembarcou no Recife, capital de Pernambuco, no auge da repressão militar, no início da década de 1970, para pesquisar as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Na labuta acadêmica, descobriu o Padre Cícero Romão e as romarias do Juazeiro, que logo se transformaram em objetos de pesquisa e devoção.

Internada deste o último dia 9 após sentir desconforto na região do pâncreas e do fígado, partiu serena e calma rodeada pelas Irmãs de Comunidade. A notícia foi comunicada por elas ao bispo diocesano de Crato, Dom Gilberto Pastana, e aos padres da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores por volta das nove da noite.

O Funeral aconteceu na Basílica. Começou no início da manhã com número limitado de fiéis, distanciamento social e uso obrigatório de máscara. Na urna onde estava o corpo da religiosa foram colocados um chapéu de palha e a cabaça com a assinatura dela e da co-Irmã Ana Teresa, feita numa noite de São João, em 1974, quando prometeram entre si que “um dia voltariam ao Juazeiro”. Àquela época, as duas visitavam o município, pela primeira vez, ainda como pesquisadoras. Depois, fixaram morada definitiva.

Presencialmente, embora ocupando apenas 25% do espaço da igreja, pelas telas de celulares e computadores, romeiros de longe e de perto, verteram lágrimas lembrando-se do bendito que ela puxava pelo coração e que resumia a sua missão de religiosa e pesquisadora: “Eu deixei pai, eu deixei mãe, deixei todos os meus irmãos e vim morar no Juazeiro para servir ao romeiro”.

A missa exequial foi presidida por Dom Gilberto, ao meio-dia, seguida de sepultamento num cemitério de Juazeiro do Norte. Concelebraram o vigário geral da Diocese de Crato, Padre José Vicente Pinto, o reitor da Basílica Santuário, Padre Cícero José da Silva, e outros sacerdotes da Diocese.

“Essa é uma celebração de despedida da convivência terrena, que nos prepara para a vida definitiva com Deus, nossa morada eterna. Unidos a todos e a todas que a conheceram, a amaram e em particular unidos à nação romeira, de quem Irmã Annette se fez madrinha, elevamos nossas orações de sufrágio ao mesmo tempo em que agradecemos o seu apostolado nas terras caririenses, ajudando-nos a moldar o rosto romeiro e missionário desta Igreja Particular de Crato”, disse o bispo durante a homilia.

Ao fim da cerimônia, o corpo de Irmã Annette partiu em cortejo sob o repique dos sinos da Basílica, ao som Ave-Maria. Será sepultada em um cemitério privado de Juazeiro do Norte, onde estão os jazidos da Congregação. O município decretou luto oficial de três dias com bandeiras a meio-mastro na sede da Prefeitura. “Deixa um incontável legado para o desenvolvimento desta cidade”, disse o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos).

 “Não se esqueçam do Juazeiro”

Irmã Betka Matusová, atualmente na Eslováquia, na Europa Central, conviveu por dezesseis anos com Irmã Annette em Juazeiro do Norte. Eram duas e quinze da manhã quando soube da partida dela. “É pesado, é triste”, afirmou. As duas chegaram a conversar mais cedo. Riram e falaram sobre coisas passadas. “Não se esqueça do Juazeiro. Foi o que ela me disse. Ela me ensinou que o romeiro, é o pobre quem nos evangeliza. Continuemos, então, nesse caminho do amor lembrando esse seu testemunho”, considerou.

O pesquisador e romeiro Fagner Andrade, de Salgadinho (PE), busca na máxima do Padre Cícero Romão – não há trabalho sem recompensa nem lágrimas sem consolação – uma forma de agradecer a vida e missão da Irmã Annette junto à nação romeira: “Ela muito me ajudou no crescimento humano e acadêmico. É um referencial para nós, pesquisadores, para nós, romeiros, para o povo de Juazeiro. Nossa gratidão e as nossas orações. Ela está no Céu com Padre Murilo, com os beatos e com as beatas e o nosso Padre Cícero”.

Romeiro de Goiás, Paulo Silva, era ainda pequeno quando conheceu a religiosa na reunião das três da tarde, encontro que ela fazia questão de conduzir durante as romarias no Círculo Operário São José, nas imediações da Basílica Santuário.  “Eu tive a graça de conhecer a Irmã Annette quando eu era ainda muito pequenino nas reuniões dos romeiros. Tenho como mãe, como madrinha, como aquela que junta”, afirmou. Ela tá no Céu, onde é o seu lugar”, disse, emocionada, a romeira Perolina Lins, de Maceió-AL, partilhando do mesmo sentimento.

Programação especial

A TV Web Mãe das Dores transmitiu as cerimônias do funeral ao vivo, além dos programas “A madrinha dos romeiros” e “Mãe das Dores em Missão” edição especial, em que devotos e pessoas próxima prestaram homenagens.