Em 2018, o Fundo Nacional de Solidariedade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) arrecadou por meio da Coleta da Campanha da Fraternidade 2018 realizada no Domingo de Ramos, dia 25 de março, o total de R$ 6.702.566,69. Deste total, extraídos os custos operacionais e de administração do próprio Fundo, foram aplicados R$ 5.678.324,21 em 179 projetos de organizações comunitárias de todo Brasil. Sendo 17 projetos para a região Sul, 61 para a região Sudeste, 24 para o Centro-Oeste, 50 Nordeste e 27 Norte. Nesta e na outra semana, o portal da CNBB trará histórias de projetos que receberam apoio do Fundo Nacional de Solidariedade para aprimorar e ampliar o alcance de suas ações.
Dentre os 27 projetos apoiados na região Norte do país, encontra-se o projeto Caminhos de Solidariedade: Brasil e Venezuela desenvolvido pela diocese e Cáritas de Roraima, em parceria com outros organismos, para a acolhida de imigrantes e refugiados venezuelanos que vieram ao Brasil em busca de melhores condições de vida. Conforme decisão dos bispos do Brasil em sua 56ª Assembleia Geral realizada em Aparecida (SP), de 11 a 20 de abril de 2018, 40% do total de recursos arrecadados na Coleta da Campanha da Fraternidade de 2018 seriam destinados à diocese de Roraima para a ação de acolhida aos imigrantes venezuelanos.
Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que mais de 30 mil venezuelanos estão em Roraima, mas apenas cerca de 6 mil estão nos 13 abrigos montados com verbas do Governo Federal e construídos pelo Exército com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Um bom número está em casas alugadas ou quartos que logo ficam lotados. Sem auxílio, fica difícil pagar aluguel que custa entre R$ 300 e R$ 500. Mas o que impressiona é a quantidade de gente dormindo nas ruas e praças. Durante o dia os cruzamentos e semáforos ficam cheios de ambulantes tentando vender qualquer coisa ou simplesmente ganhar um dinheirinho.
Acolhida e integração – O projeto Caminhos de Solidariedade é a materialização das forças da Igreja na atenção aos irmãos venezuelanos. Com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade – o gesto concreto da Campanha da Fraternidade da CNBB – o projeto está organizado em três eixos: articulação conjunta com a Igreja na Venezuela, Integração e meios de vida.
São as entidades à frente do projeto a diocese de Roraima, por meio da Cáritas diocesana, a CNBB, a Cáritas Brasileira, o Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), além de outras entidades.
Na primeira fase do programa, de junho a dezembro do ano passado, foram cadastradas 800 famílias nos municípios de Boa Vista, Pacaraima, Amajari, Mucajaí e Rorainópolis. Em janeiro deste ano o programa foi renovado por mais três meses por meio da parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma Agência das Nações Unidas, desse modo, a ação foi estendidas a mais sete municípios de Roraima: Bonfim, Cantá, Alto Alegre, Iracema, Caracaraí, São Joao da Baliza e Caroebe.
“Quando chegou a ajuda do cartão humanitária eu comecei a comprar as minhas coisas para vender aqui e ficar mais perto dos meus filhos. Hoje eu consigo comprar trigo para fazer os pasteis, compro a carne, o frango, a polpa para os sucos, copo, óleo. Faço pastel, bolo, arroz com leite e coco, arepa. Estou me sentindo mais segura com essa ajuda”, disse Mônica.
A ex estudante de administração de empresas, Mariannys Padrino, 28 anos também foi uma das contempladas com o cartão humanitário. Na mesma casa vivem quatro famílias, três receberam o benefício. “Estou no Brasil há sete meses. Passei um mês em Boa Vista vivendo na rua com meus irmãos. Depois um deles foi chamado para trabalhar em Bonfim, fazendo diárias, mas hoje, todos nós viemos para cá. Meus irmãos mandaram trazer suas esposas e filhos e eu trouxe minha mãe e meu filho. Dividimos todos, a mesma casa, são 15 pessoas, entre elas, cinco crianças. Fazemos diárias e nossa renda mensal é somente de 300 reais. Com essa ajuda passamos a comprar arroz, macarrão, açúcar, leite, frango, carne e o mais necessário para as crianças”, explicou.
Lançado em outubro de 2018, até o momento mais de 150 venezuelanos foram beneficiados pela ação de integração do projeto. Dioceses do Paraná, da Paraíba e de Sergipe já acolheram migrantes venezuelanos por meio do projeto. Também foram acolhidas famílias no Paraná, no Distrito Federal e em São Paulo.
A mais recente integração ocorreu na madrugada do dia 8 de março. As famílias de Marvin Joel Arnal Gomez e de Yussi Elizabeth Yepez de Lezema, ao todo, sete pessoas seguiram rumo à região de Brasilândia, em São Paulo, Setor Freguesia do Ó. Os viajantes foram acolhidos pela paróquia de Santa Cruz de Itaberaba e pelo serviço Pastoral do Migrante (SPM). O pároco responsável é o padre Edemilson. Eles contam que a prioridade ao chegar à maior capital do país será conseguir trabalho para dar melhor comodidade e conforto para suas famílias.
O grupo faz parte das mais de 750 pessoas cadastradas – que desejam ir para outro estado – no Caminhos de Solidariedade, cujo objetivo é ajudar os migrantes venezuelanos que atravessam a fronteira em busca de melhores condições de vida para suas famílias, em parceria com arquidioceses, dioceses, paróquias e congregações de todo Brasil.
Em carta enviada recentemente às dioceses, o bispo de Roraima dom Mário Antônio da Silva incentiva a participação de todos nesta missão. Dom Mário estimula às dioceses a se cadastrarem no site e preencherem o formulário de acolhimento para receber uma família migrante ou pessoas venezuelanas. “Peço-vos encarecidamente que nos ajude nesta grande missão!”, diz o bispo.
As dioceses interessadas em acolher imigrantes por meio do projeto Caminhos da Solidariedade podem fazer o cadastro no site www.caminhosdesolidariedade.org.br. O site contém mais informações e foi criado para ajudar o acolhimento dos imigrantes nas dioceses de todo o Brasil.