“Devemos afastar-nos do código do silêncio que não é aceitável”, afirma dom Scicluna


“Devemos afastar-nos do código do silêncio que não é aceitável”, afirma dom Scicluna


“A negação é um mecanismo primitivo, mas devemos afastar-nos do código do silêncio, quebrar a cumplicidade, porque o silêncio não é aceitável”, afirmou dom Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta, a respeito do encontro sobre “A proteção dos menores na Igreja”, que ocorre no Vaticano entre os dias 21 e 24 de fevereiro.



Sala de Imprensa da Santa Sé, local onde houve coletiva de imprensa sobre o encontro


O prelado esclareceu que a iniciativa, parte de um caminho iniciado há algum tempo, quer criar as condições certas, para que depois haja um concreto “follow-up”: os bispos retornarão às suas dioceses para continuar o trabalho, para elaborar “procedimentos”, cientes de suas responsabilidades.


Quando se trata de “proteção da inocência”, insistiu ele: “não devemos desistir. “É preciso encontrar soluções sempre mais adequadas para este problema, para que a Igreja seja um lugar seguro para todos, especialmente para as crianças”, disse. Dom Charles J. Scicluna também falou de “expectativas” sobre este encontro, afirmando que se pode partir de “expectativas razoáveis”:  em “três dias”, na verdade, não poderão ser resolvidos todos os problemas, fundamental será depois a declinação nas realidades individuais das decisões tomadas.


Um novo amanhecer sobre a transparência



Arcebispo de Chicago e membro da Comissão Organizadora do evento, cardeal Blase J. Cupich


O arcebispo de Chicago e membro da Comissão Organizadora do evento, cardeal Blase J. Cupich falou de um “novo amanhecer no que diz respeito à transparência”. Ele explicou que os bispos presentes, em sua maioria presidentes das Conferências episcopais, devem entender claramente quais são as suas responsabilidades neste horizonte, e que um “programa de proteção” pontual poderá evitar que se repita o que aconteceu no passado.


O arcebispo destacou que muitos dos que tomarão parte no Encontro no Vaticano tiveram encontros com as vítimas, como solicitado pelo próprio papa Francisco, e que cada um “traz no coração as feridas” daqueles que foram abusados por membros da Igreja. Entre os temas tratados pelo arcebispo de Chicago, também o tema da homossexualidade que, especificou, não é “causa de abusos”; e os adequados métodos de “screening” (triagem) a serem colocados em ato para aqueles que querem entrar no seminário, de modo que seja impedida a entrada daqueles “a risco” “de casos de abusos sobre menores”.


Números e contextos


Quanto à possível publicação de dados e estatísticas sobre vítimas de abusos e sobre o comportamento adotado pelos membros da Igreja para enfrentar o problema, dom Charles J. Scicluna disse que é uma escolha que provavelmente será feita, mas que “não basta publicar os números, é necessário um estudo aprofundado para dar um contexto”. Sobre o procedimento para denunciar casos de abusos ou a conduta de “bispos negligentes”, recordou a Carta apostólica em forma de “Motu Proprio” do papa Francisco “Como uma mãe amorosa”.


Testemunhos


Reunidos na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, os bispos das Conferências Episcopais tiveram a oportunidade de ouvir cinco testemunhos de vítimas de abusos, gravados previamente, na manhã da quinta-feira, 21/02. Entre eles, o de um homem asiático:


“Fui molestado sexualmente por muito tempo, e mais de cem vezes, e essas moléstias sexuais me causaram traumas e flashbacks por toda a vida. É difícil viver a vida, é difícil estar com as pessoas, se relacionar com as pessoas. Eu tive esse comportamento também em relação à minha família, meus amigos e até mesmo Deus.          


Toda vez que falei com os Provinciais e com os Superiores maiores, eles cobriam regularmente o problema, cobriam os abusadores e isso à vezes me mata. Conduzi esta batalha por muito tempo, mas a maior parte dos Superiores não são capazes de deter os abusadores, por causa da amizade entre eles.


Peço aos Provinciais, aos Superiores maiores e aos bispos que participam desse encontro para tomarem ações severas. Se queremos salvar a Igreja, acredito que os abusadores devem ser punidos. Peço aos bispos para tomarem iniciativas muito claras, porque esta é uma das bombas-relógio da Igreja na Ásia.


Se vocês querem salvar a Igreja, devemos nos mover e indicar os autores com nome e sobrenome. Não devemos permitir que as amizades cubram esse tipo de coisa, porque isso destruirá toda uma geração de crianças. Como Jesus dizia, devemos nos tornar como crianças, não molestadores de crianças”. 


Com informações do Vatican News