Projeto de superação da violência promove protagonismo de jovens e mulheres


 


 


Projeto de superação da violência promove protagonismo de jovens e mulheres


A Campanha da Fraternidade 2018, cujo tema foi “Fraternidade e superação da violência”, inspirou as Pastorais Sociais de Santa Catarina a pensarem em um projeto com objetivo de contribuir com uma reflexão crítica e propositiva dos quadros de violação dos direitos humanos que produzem violência. Junto com outras entidades eclesiais, contaram com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade para realização do projeto “A superação da violência e o protagonismo dos jovens e das mulheres”.


A iniciativa teve como foco especial a violência contra as mulheres e jovens de periferia, estimulando a reflexão sobre as realidades e as diversas formas de superação de violência. A primeira atividade aconteceu em dezembro do ano passado com a presença das 10 dioceses catarinenses em um Seminário Regional, cujo tema também é o nome do projeto.


Durante os seminários são entregues algumas cartilhas que serão distribuídas para todas as comunidades do regional. O material conta com cinco rodas de conversas que provocam o debate sobre a temática nas bases, nas comunidades. Feminicidio, racismo e até a herança do patriarcado entram nas rodas. Está previsto para novembro outro seminário regional para encerramento das atividades.


A articuladora das Pastorais Sociais no regional Sul 4 da CNBB, Carla Cristiani de Oliveira Guimarães, o projeto é um gesto concreto da CF 2018, “diante de tantos casos que estamos acompanhando no dia a dia de feminicídio, de violência contra a mulher”.


Fazem parceria com as Pastorais Sociais do regional Sul 4 da CNBB: a Pastoral da Juventude, o Instituto Catarinense de Juventude, a Cáritas Regional SC e a Rede Marista de Solidariedade. Segundo a articuladora, os grupos dos outros parceiros estão trabalhando o material preparado em suas realidades.


“A gente está conseguindo perceber que aonde o projeto está tendo visibilidade a gente está tendo um retorno bem positivo das entidades da sociedade civil, porque esta questão, esta luta contra a violência da mulher é uma luta que não é só nossa, é de todo mundo, todas as mulheres”, afirma Carla Cristiani.


Nas rodas de conversa, é utilizada uma metodologia para a inserção dos participantes na realidade das mulheres que sofrem violência. 


 


São três objetivos específicos que delineiam o projeto:


  • Oportunizar as dioceses, paróquias, comunidades e territórios o debate sobre as realidades de violência, possibilitando processos de escuta e de construção coletiva de alternativas de minimização da realidade;

  • Elaborar Rodas de Conversa sobre temas transversais que enfatizem a violência contra a mulher e a juventude, possibilitando que os participantes se tornem sujeitos de seus processos e de mudanças necessárias;

  • Valorizar os saberes populares, expressões artísticas e culturais como alternativa de resistência e de manifestação contra o sistema gerador de violência.


Os recursos do FNS contribuíram para a realização dos seminários e a confecção de 4 mil cartilhas que serão distribuídas nas dioceses.


 


Em entrevista, Carla Cristiani destacou como tem sido a aplicação do projeto:


Quais resultados foram percebidos nas comunidades nas quais o projeto incidiu?


De resultados concretos que a gente consegue perceber, primeiro, a conscientização de muitas mulheres do processo de violência que sofrem ou que já sofreram e que não tinham clareza de que eram violentadas. Os depoimentos que as pessoas estão fazendo, mesmo nos seminários diocesano, muitas mulheres estão dando seus depoimentos de que são violentadas ou que já foram violentadas e que agora estão conseguindo perceber-se violadas em seus direitos. Um outro fruto que a gente pode perceber são as parcerias que estão sendo estabelecidas com delegacia da mulher, centro de direitos humanos, movimento de mulheres… A gente está conseguindo perceber que aonde o projeto está tendo visibilidade a gente está tendo um retorno bem positivo das entidades da sociedade civil porque esta questão, esta luta contra a violência da mulher é uma luta que não é só nossa, é de todo mundo, todas as mulheres.


Então, os movimentos, os grupos que têm afinidade com a temática estão conseguindo firmar parcerias com promotoria pública, delegacias de mulheres, centros de direitos humanos, câmara de vereadores em alguns municípios, onde o próprio seminário da diocese será realizado na Câmara dos Vereadores, possibilita também que o parlamentar possa estar participando. Então a gente está tendo de resultados imediatos estas parcerias e a visibilidade. Mas, para a gente, o mais importante é essa conscientização que as mulheres estão tendo de perceberem violentadas e a possibilidade de denúncias.


Na diocese de Caçador, o pessoal resolveu criar um panfleto com os locais de denúncia, aonde buscar ajuda, como fazer este processo de desconstruir este ciclo de violência. Então a gente consegue perceber estes pequenos frutos bem localizados, mas que é na verdade nosso grande objetivo, atingir estas mulheres.


 


Quais os impactos no trabalho das pastorais e entidades após a implementação do projeto?


De impacto, o que a gente poderia ressaltar é que a gente está conseguindo levar esta temática para dentro do espaço da Igreja, porque se fala muito de feminicídio, de violência contra a mulher, mas muitas das pautas da Igreja para fora. Alguns pastorais mais progressistas e alguns movimentos da Igreja que tem afinidade com a temática acabam trazendo a pauta para dentro dos seus debates. Mas como projeto nós estamos percebendo que este debate está atingindo o espaço interno.


Então, padres estão discutindo, bispos estão cientes do projeto e estão ajudando a discutir, no nosso seminário regional tivemos a presença de dois bispos. Por mais que seja cheio de tabus e de minúcias que possa parecer este debate no interno da Igreja, a gente está conseguindo trazer temáticas e fazendo debates, promovendo reflexão e também discutindo que, dentro da nossa Igreja, muitas vezes nós mulheres somos violentadas, quando somos caladas, quando muitas vezes não estamos nos espaços deliberativos, quando nos negam estar nos espaços importantes decisórios da Igreja.


Estas questões, quando a gente aborda esta temática da violência, não queremos ficar na violência física, que traz marcas visíveis no corpo, mas também essas violências de negar o potencial de uma mulher dentro de um espaço pastoral, de sempre estar trazendo os homens como as grandes referências, as grandes sumidades nos assuntos aonde as mulheres também têm condições de estarem presente. Então, acho que o grande impacto – que ainda é muito primeiro – é essa quebra de paradigma, de trazer estas temáticas para dentro do espaço da Igreja e dizer assim ‘olha, se lá fora as mulheres estão morrendo e estão sendo violentadas, aqui dentro da Igreja a gente também tem sinais de violência’. E nós precisamos acender a nossa luzinha de emergência e dizer ‘dentro da nossa Igreja nós não podemos tratar as mulheres desta forma’.


 


A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pela oferta de doações em dinheiro na coleta de solidariedade, realizada no Domingo de Ramos. É um gesto concreto de fraternidade, partilha e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade e o fruto das coletas integra o Fundo Nacional de Solidariedade.