“O Sínodo da Amazônia está despertando interesse em muitos setores da sociedade, porque um Sínodo é a reunião de pessoas, de bispos, em busca de soluções em conjunto com a graça de Deus para a realidade sócio-econômica ou eclesial”, afirma o bispo de Marabá (PA), dom Vital Corbellini.
O bispo explica ainda que o tema será: novos caminhos para a Amazônia e para uma ecologia integral. Falará da Amazônia, sobretudo a presença da Igreja nessa área do Brasil e da América Latina, juntos aos povos ribeirinhos, do campo, dos povos indígenas. “O interesse ultrapassou o setor eclesial e, portanto, está no nível social. A Igreja evangeliza e é evangelizada pelas pessoas da cidade e do campo”.
A região amazônica que ocupa mais da metade do território nacional e é rica em biodiversidade, tem se tornado nestas últimas décadas local de cobiça, de cultura do descarte, assim como nos fala o Papa Francisco (LS 16).
“A Amazônia possui uma riqueza em águas, nascentes, ouro, minério, diamantes, florestas, animais, de modo que as grandes empresas do Brasil e do mundo desejam explorá-las sem levar em conta os povos nativos, os povos indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, os pescadores, as mulheres, os trabalhadores do campo e da cidade”, ressalta.
Dom Vital diz que em Marabá o debate do momento é sobre o Pedral do Lourenço, na Vila Tauiry, município de Itupiranga, onde querem construir uma hidrovia; no entanto existem riquezas naquele Pedral como ouro e diamantes, de modo que existem outros interesses econômicos em jogo.
“O Rio Tocantins não tem lâmina de água para hidrovia. Já foi constatado por estudos anteriores. Este é um exemplo que nós estamos dando, de modo que o Sínodo sobre a Amazônia interessa a muitas pessoas. Sabemos que muitos são os povos e suas culturas. São três milhões de povos indígenas nos nove países que compõem a Pan-Amazônia, sendo 390 povos e nacionalidades diferentes”, destaca.
E continua: “Os povos indígenas vivem sob ameaça desde o período da colonização. A Igreja tem sido testemunho de estar na cruz, de martírio, de perseguição por causa de Cristo e do evangelho, de valorização pela ecologia, dos frutos da terra, o caráter sagrado da família humana, valorização da família, solidariedade, e fé além da morte, a vida eterna”.
Para dom Vital, é claro que o Sínodo despertou interesse no lado político, militar, porque a Amazônia é parte do Brasil, é o pulmão do mundo.
“O que importa é a nossa presença na Amazônia, na qual devemos aprofundar novos caminhos da Igreja para a Amazônia. A evangelização interpela a identidade do cosmo, sua harmonia essencial e seu futuro, somos chamados a proteger a casa comum da criação (Cfr. DAp 471). A Igreja na Amazônia é chamada a partilhar a dor do povo, sendo uma Igreja samaritana, missionária. Vemos neste sentido a morte de muitas pessoas por defenderem o evangelho de Jesus Cristo, e nas causas sociais importantes, como a defesa da floresta, das terras, dos movimentos sociais, da Igreja de muitos mártires, e também de uma Igreja que testemunha diariamente o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo”, diz.
A dimensão social da missão evangelizadora da Igreja na Amazônia é relevante por se tratar de habitat de camponeses, de povos indígenas e de cuidar da casa comum, ressalta o bispo de Marabá. Segundo ele, é preciso uma igreja com rosto amazônico baseada numa ética, ecologia integral e humana, superação do individualismo e do utilitarismo.
“É preciso na Igreja da Amazônia ter uma espiritualidade com o estilo de Jesus; simples, humana, samaritana, missionária, que permite a celebração eucarística, a leitura da palavra de Deus, que leve as pessoas ao encontro com Jesus Cristo, que valorize os sacramentos da iniciação à vida cristã, que a pessoa viva na família, na comunidade e na sociedade”.
Dom Vital fala ainda que o Sínodo é oportunidade para crescermos como Igreja de Jesus Cristo, para que reine a paz, o amor nestas terras ricas do povo de Deus que aqui vive na qual evangelizamos os outros e somos evangelizados. Para isso é preciso à conversão pastoral e ecológica, ponto muito importante em Aparecida e agora no Sínodo.
“Devemos nos converter, o Senhor nos pede sempre isso. Esta preparação é bastante rica na qual despertou o interesse de muitas pessoas de dentro da Igreja e de fora, do ambiente político, federal. Isso nos faz pensar que deveremos debater bem as questões do sínodo, a nossa presença junto aos povos da Amazônia, mas, sobretudo dos povos indígenas, dos excluídos da sociedade”.
Dom Vital clama a Nossa Senhora de Nazaré, rainha da Amazônia, que leve todos os pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. “O Espírito Santo nos ilumine nesta caminhada ajudando-nos a viver a palavra de Jesus Cristo. A presença do Pai fortaleça a vida de todo o povo de Deus e das pessoas de boa vontade na Amazônia. Deus Uno e Trino seja louvado pelo Sínodo que acontecerá na Igreja em outubro, como fator de unidade e de amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, finaliza”