“Sei quanto este Sínodo está sendo um sinal de esperança para o nosso povo, sobretudo aqueles que nunca são ouvidos”, afirmou o arcebispo de Manaus (AM), dom Sérgio Eduardo Castriani, em artigo publicado no jornal O Tempo deste domingo, 17 de fevereiro. Comentando o processo de preparação e as reações em torno do Sínodo Especial para a Pan-Amazônia, convocado pelo papa Francisco, o arcebispo ressalta que falar sobre o cuidado com o meio ambiente “não é um atentado contra a soberania nacional, mas é colocar nossa pátria na vanguarda da defesa da vida no planeta”.
O arcebispo conhece a realidade amazônica desde 1979, no início de sua trajetória presbiteral. Seu ministério episcopal, desde 2000, também acontece na região (Tefé e Manaus). Atualmente, faz parte da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
No processo de preparação do Sínodo Especial para a Amazônia, que contou com eventos de consulta às dioceses e comunidades, dom Sérgio ressalta o que viu e testemunhou, como o encontro de bispos com ribeirinhos e comunidades indígenas, reuniões de jovens “que puderam se expressar livremente sobre temas antes vistos como tabus em rodas de conversa e escutas que se multiplicaram por todo o território panamazônico”.
“A preocupação de todos é a evangelização e a maior demanda é que se pensa na Eucaristia, que não pode ser celebrada por falta de ministros. São preocupações que vem de longe. A estas se juntam à preocupação com a Casa Comum, numa Ecologia Integral. E neste aspecto os povos originários tem muito a nos ensinar. Também os ribeirinhos adquiriram a arte de viver e conviver na floresta”, explica.
De acordo com o arcebispo de Manaus, os melhores projetos de desenvolvimento sustentável são os que aliam conhecimento científico e sabedoria popular: “O Sínodo da Amazônia já é um evento bem-sucedido porque já provocou um grande mutirão de participação nas reflexões nunca visto em Sínodos anteriores. É o Povo de Deus que caminha na história e que quer ser ouvido em questões que são vitais para a humanidade”.
Sobre as acusações e monitoramentos à Igreja por ocasião do Sínodo, dom Sérgio se mostrou surpreso, uma vez que não nada foi feito de secreto: “Centenas de textos de trabalho foram distribuídas. O que levou a esta suspeita? Tudo indica que é o medo de críticas e de oposição. Além disto, atribuir a preparação do Sínodo a uma orientação política da Igreja Católica mostra que a Igreja é pouco compreendida”.
Quando se questiona a competência da Igreja para tratar dos temas relacionados à vida dos povos e o cuidado da casa comum, o arcebispo ressalta a presença eclesial na Amazônia desde o início da sua ocupação pelos europeus. “Tem um conhecimento da realidade que vem da convivência dos seus ministros com o povo”, reforça.
“Os bispos que participarão da Sínodo são pastores atentos à vida do rebanho e agem sem segundas intenções quando defendem seus direitos e denunciam a violação dos mesmos. Os missionários estiveram entre os primeiros a descrever a região e seus habitantes. A Igreja encara com seriedade a sua missão e sempre procurou o melhor para os seus fiéis. Não jogamos para a plateia e nem visamos o dinheiro fácil e abundante que sempre atraíram os olhares cobiçosos para esta região, fonte inesgotável de riquezas”, salienta