Visita Pastoral: na terra da Serva de Deus, um servo no meio do povo



 



Chegada


Santana do Cariri, quinta-feira, 17 de janeiro. É começo da noite. Os paroquianos de Senhora Santana, devidamente fardados, representam suas respectivas pastorais, movimentos e serviços. A banda de música, organizada em fileiras, em frente à Matriz Paroquial, afina seus instrumentos, enquanto o cortejo processional se aproxima. No interior do imponente templo, cuja arquitetura remete à época colonial do Brasil, as crianças repassam os cantos da Missa, de melodias suaves e tranquilas.

Vista da Igreja Matriz dedicada à Senhora Santana. Foto: Patrícia Mirelly


À porta da principal da igreja, o bispo Dom Gilberto Pastana é conduzido pelo pároco, Padre Paulo Lemos, acompanhado do Padre Joaquim Cláudio, filho da terra.


Por entre aclamações, com trombetas e trompetes, a comunidade, cheia de júbilo, representada por Danilo Sobreira, membro do Conselho Paroquial, acolhe o seu pastor diocesano para três dias de visitas, encontros e celebrações. “É com profunda alegria que esta porção do rebanho de Cristo acolhe o legítimo sucessor dos apóstolos, como nosso pastor, guia e pai espiritual. Manifestamos a nossa estima e a nossa oração, invocando as bênçãos de Deus, a proteção de Maria e de Senhora Santana”.


Ao som do hino à padroeira, a Santa Missa é iniciada, em ação de graças a esse acontecimento eclesial solene. Todos seguem para dentro da Matriz. À frente do cortejo, uma criança leva a imagem da padroeira, e a põe ao lado da mesa do Altar, ornada com flores e tolhas.


Trazendo consigo o báculo, símbolo do pastor, Dom Gilberto saúda a assembleia e explica a intenção da visita: sentir o cheiro das ovelhas. “A visita pastoral se distingue, porque ela requer esse tempo de conhecimento, de aproximação e de diálogo. Tempo, portanto, de convivência entre o pastor e suas ovelhas”.


Início da visita


A Paróquia Senhora Santana foi inaugurada em 31 de janeiro 1911. Está dividida em 22 comunidades, e terá, futuramente, a primeira beata do Ceará, a jovem mártir Benigna Cardoso da Silva.

Moradores prepararam até faixa para recepcionar o bispo. Foto: Patrícia Mirelly


Sexta-feira, 18 de janeiro. O segundo dia da visita pastoral começa ainda cedo. Dom Gilberto, acompanhado do pároco, padre Paulo Lemos, percorre o arquivo paroquial, folheando livros de tombos e outros documentos. Entre as preciosidades, está o pote que Benigna carregava no dia do martírio e outros objetos que pertenciam a ela: terço, vestido e um livro de História Bíblica dos idos de 1941.


A programação da manhã segue com entrevista à Rádio Santana FM, em cadeia com a Rádio Educativa Vale do Buriti, no programa “Fé e Vida”. Depois, uma passagem pela Câmara Municipal. Recepcionado pela presidente, vereadora Luciene Sousa, Dom Pastana concede uma bênção especial às instalações e faz um breve momento de oração na intenção de que as leis e os projetos discutidos sejam para o bem da coletividade. De lá, segue para o Hospital e Maternidade Senhora Santana, para visita aos enfermos e palavras de ânimos àqueles que os acompanham com tanto zelo e paciência. No início da tarde, reza no Cemitério Público São Miguel, onde Benigna foi enterrada (hoje os restos mortais estão na Igreja Matriz de Senhora Santana).


No caminho para a Penitenciária Agrícola, localizada no Sítio Jitó, que abriga onze internos em regime semi-aberto, a aposentada Ana Maria da Silva, com a irmã e a filha, aguarda, ansiosa, a passagem do bispo. E até prepara um pequeno altar com imagens dos santos de devoção popular e a Bíblia. “Eu só queria uma bênção”, ela diz.


O segundo dia da visita é finalizado à noite, com a celebração da Santa Missa na Capela São Raimundo Nonato, no Sítio Bois, e uma reunião com a Comunidade São José, no distrito Brejo Grande. “É na comunidade que nós vivemos a nossa fé. Portanto, devemos sempre estar em comunhão e sintonia com todos”, exorta.


Último dia


Sábado, 19 de janeiro. O dia está nublado. Nas primeiras horas, a aposentada Nair Sobreira, que conviveu com Benigna, acolhe o bispo e a comitiva que o acompanha. O café da manhã é servido. À mesa, a centenária Joana Peixoto, amiga da família e conhecida na cidade como “madrinha da farmácia”, emociona-se por estar ladeada “por tantos padres e bispo”. “Ô que beleza!”, ela repete, exultante de alegria.


O primeiro compromisso da manhã é na a Capela São Vicente, no Bairro Inhumas. Dom Gilberto, junto ao Padre Paulo Lemos, conversa com os moradores sobre a importância de cultivar a devoção a Benigna, principalmente entre os jovens. Outro assunto refletido é a tradição do Pau-da-Bandeira, que deve ser observada, mas sem fazer uso de bebidas alcoólicas.


Ainda na mesma comunidade, três casais de idosos, na casa dos noventa anos, recebem o bispo. Entre eles, está o oficial de Justiça aposentado, Raimundo José da Silva, o mais antigo do Estado do Ceará. Dom Gilberto, muito impressionado com tanta longevidade, a todos concede a sua bênção, invocando as mais copiosas graças do Céu.


No fim da manhã, nas imediações do Bairro Inhumas, que também abriga o memorial dedicado a Benigna, está o local em que ela foi martirizada. Dom Gilberto o percorre, passando por um estreito caminho de chão batido, cortado por matos verdes e árvores. Diante da cruz que sinaliza onde ela tombou, o bispo reza pedindo a intercessão da “Heroína da Castidade”.


De volta ao centro da cidade, uma reunião com as autoridades municipais conclui a programação da manhã. No mesmo local, é realizado outro encontro, quase uma hora depois, agora com as comunidades que integram a paróquia.


E como há muita piedade no memorial de Benigna, a quem os santanenses chamam, carinhosamente de “santuário”, é nele que a visita pastoral é concluída sob as bênçãos de Deus invocadas na Santa Missa.


Padre Paulo lemos, muito satisfeito, avalia estes três dias de visitas, encontros e celebrações como “tempo enriquecedor da ação pastoral”. “Uma das nossas metas é tornar a paróquia, cada vez mais, uma comunidade de comunidades. Um dos destaques dessa visita pastoral foi, justamente isso, o fortalecimento do espírito comunitário, porque nós vivemos num mundo individualista, fechado para os outros. É necessário, mais do que nunca, que a gente possa organizar o povo de Deus nessa consciência de ser uma Igreja irmã, casa-escola de comunhão e fraternidade”, considera.


Reportagem: Patrícia Mirelly/Assessoria de Comunicação


Fotos: Jornalista Patrícia Silva