Dom Mauro: um bispo de mão cheia!

por: dom Edson de Castro Homem

A Diocese de Iguatu, recém-criada, em 1961, recebeu graciosamente de Deus, através do Papa São João XXIII, seu primeiro Bispo DOM JOSÉ MAURO RAMALHO DE ALARCON E SANTIAGO, nascido em Russas, na Região do Jaguaribe, Ceará, em 14 de maio de 1925. Por ocasião de sua eleição ao episcopado, um político se expressou quase profeticamente: “Será um bispo de mão cheia”.

Seu lema episcopal resume o sentido de seu pastoreio, um permanente pedido ao Divino Espírito do Amor: “Enchei o íntimo do coração”. A propósito, Dom João José Costa, terceiro Bispo de Iguatu, escreveu: “Talvez o seu lema episcopal possa expressar a síntese de sua vida e sua missão”. Sem dúvida, pois conduziu a Igreja Particular de Iguatu, não só com a “mão cheia”, mas com o coração, repleto do Espírito Santo.

Teve a graça de participar do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1964), maior evento eclesial do século XX. Consequentemente, vivenciou, por 38 anos, o sopro conciliar renovador, em terras cearenses, na nova pastoral que se iniciava. Também se conduziu com equilíbrio diante da crise pós-conciliar que atingira o clero e a vida religiosa. Permaneceu de pé, em sintonia com a CNBB e em comunhão com o Papa.

Dom Mauro sempre trabalhou com o laicato. De seu Bispo recebera, em Aracati, a incumbência de acompanhar a Legião de Maria, ainda como padre. Chegando a Iguatu, trouxe-a consigo. Ainda mais: acompanhou-a sempre como diretor espiritual, mesmo emérito, e enquanto suas forças permitiram. No mesmo espírito conciliar, incentivou outras formas de participação laical, tais como: Comunidades Eclesiais de Base, Cursilhos de Cristandade, Movimento dos Focolares, Pastorais diversas. Igualmente, solicitou a presença de religiosas missionárias de diversas Congregações.

Construiu o Centro de Treinamento, o Seminário e a Residência Episcopal, sempre com a ajuda de vários benfeitores, entre eles, as Irmãs de Santa Tereza e o Governador do Ceará, além de políticos locais e do imprescindível “óbolo da viúva”. Fundou a Escola de Catequese e Paróquias. Realizou as visitas pastorais e administrou a unção crismal pelo vasto território diocesano. Compôs o Hino de Senhora Sant´Ana pelo qual será sempre lembrado nas festas da mãe de Maria. Escreveu os textos para o programa radiofônico: “A Voz do Pastor ”e também para o “Boletim da Diocese de Iguatu”.

Viveu o impacto do furto da venerável imagem de Senhora Sant`Ana que a todos causou tristeza e desolação. Não mediu esforços para sua recuperação. Viveu com maior intensidade a satisfação de a receber de volta, em festa popular. Um dia de júbilo.

Experimentou os efeitos das secas e das enchentes. Sua biógrafa narra: “As águas invadiram a parte baixa de Iguatu… A casa foi invadida pelas águas. D. Mauro se retirou à meia noite, levado no reboque de um trator… ” (Socorro Pinheiro. In: A Voz do Pastor, p. 81).

O clero e os diocesanos sempre lhe expressaram estima e gratidão, pois edificou a Diocese de Iguatu, com abnegação e sacrifício de si. Acompanharam-nos em sua internação hospitalar com visitas e orações. Enfim a narrativa de sua vida é uma bela história. Permanecerá na memória viva do Centro Sul do Ceará e, sobretudo, em Russas, como seu filho mais ilustre.

A ele se aplica o desejo do Apocalipse: “Descanse de suas fadigas, pois suas obras o acompanham” (Ap 14, 13).