“A alegria pascal se alicerça na fé que dá novo alento no cotidiano”


Dom Armando: “A alegria pascal se alicerça na fé que dá novo alento no cotidiano”


Para o povo cristão, a Páscoa é a ‘festas das festas’, ponto de partida de sua caminhada de fé no Senhor morto e ressuscitado. Nesta época a liturgia reflete, em suas celebrações, a convicção de fé e dá um destaque muito grande ao evento que é celebrado por cinquenta dias: o tempo pascal. O bispo de Livramento e presidente da Comissão para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Armando Bucciol falou ao portal da CNBB sobre a unidade desse tempo e a continuidade da celebração do ministério pascal. “Os cristãos católicos são chamados a viver não só a liturgia que celebram, mas, sobretudo, da liturgia e o que nela se propõe e se experimenta. A alegria pascal não é superficial entusiasmo, nem sentimento passageiro. Ela se alicerça na fé que dá novo alento nos acontecimentos cotidianos”, afirma dom Armando.


Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:


O tempo pascal representa para os católicos um momento especial. O que os textos litúrgicos nos colocam?


A solenidade da Páscoa é celebrada como o primeiro de sete domingos todos ‘pascais’. Antes da reforma litúrgica do Vaticano II falava-se em ‘domingos após a Páscoa’; agora destaca-se a unidade desse tempo e a continuidade da celebração do mistério pascal.


Nos textos litúrgicos retornam as palavras alegria, júbilo, felicidade. A nascente de tudo se encontra na vitória de Cristo sobre a morte. Por isso, a Oração da II feira depois da Páscoa reza: Transborde em nossos corações, Senhor, / a graça do sacramento pascal / e tornai dignos dos vossos dons aqueles que fizestes entrar / no caminho da salvação eterna. No dia seguinte, pede-se a Deus: preparai os corações de vossos filhos / que enriquecestes com a graça do batismo, para merecerem a felicidade eterna.


É uma explosão de vida, de esperança e de futuro que já irrompe nos que acolhem o Senhor e pretendem viver acolhendo seus dons batismais: pelas festas que celebramos na terra, mereçamos chegar às alegrias eternas, diz a ‘oração do dia’, na quarta feira da primeira semana.


Esse Tempo pascal continua até a solenidade do Pentecostes, plenitude do dom do Espírito e início da missão da Igreja enviada a testemunhar essa alegria pascal pelas estradas do mundo. No quadragésimo dia, na quinta feira da penúltima semana, celebra-se a festa da Ascensão do Senhor ao céu, festa que, no Brasil, é adiada ao domingo seguinte. A liturgia proporciona aos seus filhos e filhas o dom de respirar, com os pulmões da Palavra e da Eucaristia, o sopro santificador e transformador do divino Espírito.


Como as comunidades católicas podem vivenciar esse tempo litúrgico?


Os cristãos que, ao longo da Quaresma, viveram com intensidade espiritual o mistério pascal do Senhor já amadureceram uma espiritualidade transformadora, isto é, tornaram-se disponíveis no seguimento de Jesus, fiéis à Palavra, compenetrados pela Eucaristia e pela força do Espírito.


Os cristãos católicos são chamados a viver não só a liturgia que celebram, mas, sobretudo, da liturgia do que nela se propõe e se experimenta. A alegria pascal não é superficial entusiasmo, nem sentimento passageiro. Ela se alicerça na fé que dá novo alento nos acontecimentos cotidianos. À escola da liturgia, portanto, devemos aprender a sermos acolhedores, como Ele nos acolhe; capazes de dar perdão, como o Senhor nos perdoa; disponíveis à escuta nos encontros e contatos com os irmãos. De fato, como podemos dizer que escutamos o Senhor (que não vemos), se não formos capazes de escutar o próximo (que vemos)? A liturgia do tempo pascal é repleta de luz e de paz. Vivamos, portanto, essa alegria – dom do alto – e sejamos disponíveis à partilhar o que somos e o que temos, com humildade, sinceridade, coerência nos acontecimentos que a vida nos proporciona.


Como está indo o seu trabalho de pastor na diocese de Livramento, especialmente neste tempo?


Meu trabalho pastoral na diocese? Sabe, os antigos diziam que ninguém é juiz em causa própria. Deveria perguntar aos padres e aos fiéis o que pensam.


Só destaco que a primazia, na organização pastoral e nas prioridades pastorais, razão primeira e última, é continuar a missão que Jesus nos deixou: ‘Anunciar aos pobres a Boa-Nova’. Para isso, outra prioridade é procurar formar leigos e leigas para um serviço pastoral competente, apaixonado e fraterno. Outra dimensão importante é a organização pastoral, tendo Conselhos pastorais na diocese, nas paróquias e suas comunidades, para viver o espírito de comunhão e participação, com o respiro de Cristo. Por isso, outra urgência consiste em alimentar a espiritualidade à escola da Palavra e da oração.


A Diocese é relativamente pequena (uns 24 mil Km2), com uma população de uns 320 mil habitantes. Os padres são 22 (com os religiosos); temos 15 seminaristas, alguns próximos à ordenação presbiteral. Caminhamos na alegria da fé, procurando semear com simplicidade e na esperança. O projeto pastoral dos próximos anos nos empenha a sermos “Igreja missionária a serviço do Evangelho”. Confiamos na presença amorosa e maternal de Nossa Senhora do Livramento.