Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Com o coração entristecido, mas cheio de gratidão a Deus, unimo-nos à Igreja do mundo inteiro para render graças pela vida e missão do Papa Francisco, que hoje retorna à Casa do Pai. Sua partida marca o fim de uma era profundamente transformadora na história da Igreja, mas também o início de um tempo de memória viva, em que seus gestos, palavras e escolhas continuarão a inspirar gerações.
Desde o momento em que apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, na noite de 13 de março de 2013, pedindo humildemente a oração do povo antes de abençoá-lo, sabíamos que estávamos diante de um novo estilo de Pontificado. Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa latino-americano, jesuíta, escolheu o nome Francisco — e com ele abraçou a missão de ser sinal de simplicidade, cuidado com os pobres e testemunho radical do Evangelho.
O Papa Francisco foi, acima de tudo, um pastor próximo, que não teve medo de ir ao encontro das periferias existenciais e geográficas. Com gestos concretos e palavras diretas, foi um profeta da misericórdia, como bem expressou na bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015): “A misericórdia é a viga que sustenta a vida da Igreja.” Sob sua liderança, a Igreja redescobriu a beleza de acolher, de ouvir e de caminhar com todos, especialmente os mais frágeis.
Sua opção preferencial pelos pobres, seu chamado insistente à conversão pastoral, sua denúncia profética da indiferença global frente ao sofrimento humano, e sua defesa incansável da ecologia integral — como expressa na Encíclica Laudato Si’ — fizeram dele um líder espiritual de dimensão global, ouvido não apenas pelos católicos, mas por pessoas de todas as crenças e ideologias.
Homem de oração silenciosa, devoto de Santa Teresinha e de São José, Papa Francisco uniu em si a firmeza do pastor e a ternura do pai. Sua linguagem acessível tocou os corações, e suas homilias matinais em Santa Marta, cheias de sabedoria pastoral, formaram uma verdadeira escola de espiritualidade simples e profunda.
Não se pode esquecer também de sua coragem reformadora. Com firmeza evangélica, enfrentou desafios internos da Igreja, promovendo a transparência, a sinodalidade e a participação. Convidou-nos a sermos uma Igreja em saída, com “cheiro de ovelha”, comprometida com a construção de um mundo mais justo e fraterno.
Neste dia 21 de abril de 2025 enquanto o mundo se despede deste grande servo de Deus, somos chamados a guardar e multiplicar os frutos de seu Pontificado. O Papa Francisco foi, verdadeiramente, um dom do Espírito Santo à nossa época. Sua memória permanecerá viva nos corações dos que viram nele um sinal luminoso da presença de Cristo no mundo.
Rezemos por sua alma, confiando-o à misericórdia daquele Senhor a quem serviu com inteireza de coração. E que, lá do céu, continue intercedendo por esta Igreja que tanto amou.
Descanse em paz, Papa Francisco! O mundo é melhor porque você passou por ele.