A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS ANCIÃOS

Dom Edson de Castro Homem, Bispo Emérito de Iguatu

O Papa Francisco escreveu uma Carta, cheia de delicadeza e de empatia, para o primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Anciãos, domingo 25 de julho de 2021, véspera da Memória Litúrgica de São Joaquim e Sant’Ana, pais de Nossa Senhora.

Tudo que é dito sobre Joaquim e Ana se encontra no Protoevangelho de Tiago que é um livro apócrifo do século II. Não tem fundamento histórico. No entanto, tem o valor próprio de qualquer relato piedoso da época, espécie de novela, escrito para edificar os cristãos dos primeiros séculos.  A narrativa é baseada em passagens do Antigo Testamento.

A memória festiva chama nossa atenção para a importância dos antepassados e de sua descendência conforme a literatura bíblica sapiencial. O Eclesiástico se refere aos “homens famosos”, isto é, aos justos segundo a Lei por praticá-la. Daí a referência de serem “homens de misericórdia cujos gestos de bondade não serão esquecidos” (Eclo 44, 10) e “seus corpos serão sepultados na paz” (v. 14). Além disso, “eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança” (v. 11); “sua descendência se mantém fiel às alianças e, graças a eles, também seus filhos” (v. 12-13).

O texto aplica-se tanto a Joaquim e Ana quanto à Maria e Jesus, enquanto respectivamente filha e neto. Conclui-se que “os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia vai celebrar o seu louvor” (v. 15). É o que nós fazemos.

Atualizando o sentido da festividade para a vida familiar, espera-se que o exemplo, a fé e o amor transmitidos aos filhos sejam repassados aos netos e sucessivamente. Cabem às novas gerações sempre acolher o legado das gerações anteriores e cultivar os valores recebidos para que a boa tradição seja viva e revitalizada. Os velhos acolham os jovens, apesar de certo estranhamento, superando o choque de gerações. Os jovens, por sua vez, acolham os idosos, sem impaciência, valorizando sua experiência de vida.

O Papa na sua Carta, acima mencionada, sugere que os anciãos empreendam um novo caminho pelas estradas do SONHO, DA MEMÓRIA, DA ORAÇÃO. Com ternura, sugere que os jovens agarrem os sonhos dos idosos para leva-los adiante. Com observação, vê que os sonhos se entrelaçam com a memória. Diz: “Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros”. Com seu predecessor, constata: “a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos” (Bento XVI, em 12 de novembro de 2012).

Muitos idosos experimentam amor e acolhida, respeito e gratidão. Outros, a ingratidão, maus tratos e abandono. Seja como for, os tempos modernos ensejaram a Pastoral da Pessoa Idosa. Ela existe em várias Dioceses do Brasil e em muitas Paróquias. Tem como objetivo visita-los, quando possível integra-los na vida social pela recreação e a oração e. sobretudo, tenham acesso à Comunhão Eucarística domiciliar e à Unção dos Enfermos.

O Papa Francisco lembrou aos avós e idosos a promessa de Jesus: “Eu estou contigo todos os dias” (Mt 28,20). Afirmou-lhes sua proximidade: “são também as palavras que eu, Bispo de Roma e idoso como tu, gostaria de te dirigir…” Igualmente, os Bispos do Ceará dos quais me faço intérprete, dizemos: estamos com todos os nossos queridos anciãos.

Imagem: Pascom Paróquia Senhora Sant’Ana – Varjota/CE