50 anos do Mês da Bíblia no Brasil (1971-2021)

Dom André Vital Félix da Silva, SJC

Bispo de Limoeiro do Norte

Há exatamente 50 anos se realizava uma bela experiência formativo-pastoral na Igreja do Brasil dando origem, assim, ao mês da Bíblia. Na ocasião da celebração dos 50 anos da Arquidiocese de Belo Horizonte-MG (1971), as Irmãs Paulinas juntamente com outras pessoas comprometidas com o movimento bíblico, propuseram ao então arcebispo a organização e realização de um grande movimento bíblico que pudesse ter amplo alcance. Tal iniciativa foi de grande êxito expandindo-se, dessa forma, a toda a Igreja do Brasil, que por sua vez, já tinha uma história antecedente no que concerne à centralidade da Palavra de Deus na vida das comunidades eclesiais. Não há dúvidas de que o Vat II deu um grande impulso a esse movimento bíblico, sobretudo com o importante documento Dei Verbum que trata justamente da Palavra de Deus: “Deste modo, pois, com a leitura e o estudo dos Livros Sagrados, difunda-se a Palavra de Deus e seja acolhida com honra, e cada vez mais encha os corações dos homens o tesouro da Revelação, confiado à Igreja” (26).

Nestes 50 anos podemos perceber como o conhecimento e acolhida da Palavra de Deus tem crescido e produzido muitos frutos para a vida pessoal e comunitária na nossa Igreja, sem esquecer também a dimensão ecumênica que se fortalece em alguns campos. Fazendo uma rápida retrospectiva não apenas da experiência na Igreja do Brasil, mas também em âmbito universal, o impulso renovador em relação à importância da Bíblia para a vida e missão da Igreja tem uma história muito bonita e dinâmica. Partindo, apenas, do início do séc. XX contatam-se mudanças significativas no uso da Sagrada Escritura, por exemplo, o Papa Pio X (1903-1914) propõe uma restauração do espírito litúrgico com a utilização frequente da Bíblia. Por sua vez, o Papa Pio XII (encíclica Divino Afflante Spiritu) incentiva a difusão da Bíblia entre os fiéis, nas diversas línguas. Podemos dizer, que esses e outros antecedentes prepararam o caminho para que no Vat II se chegasse ao importante documento supracitado Dei Verbum.

Vale salientar um outro acontecimento situado nessa história de 50 anos, o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008), do qual resultou a exortação pós-sinodal Verbum Domini (Bento XVI), que “indica algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra Divina, fonte de constante renovação, com a esperança de que ela se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial” (VD 5).

Para compreender o processo que se deu ao longo desses 50 anos, com ajuda de tantas reflexões e iniciativas, podemos identificar três grandes momentos: antes do Concílio Vat. II o impulso dado pelo movimento bíblico que vai ter como fruto no pós-concílio a sistematização de uma pastoral bíblica, porém, ainda de alcance restrito a grupos ou setores da Igreja que aderiam a essa frente de missão. Mas os frutos não se esgotaram nessa instância, e chegamos a uma amplitude maior: a animação bíblica da pastoral, que não é apenas uma dimensão entre outras, mas uma perspectiva transversal para alcançar toda a vida e missão da Igreja que deve se nutrir permanentemente da Palavra de Deus, levando-nos à consciência de que somos um só em Cristo Jesus (Gl 3,28), como nos é proposto refletir e aprofundar neste ano de 2021 a partir do estudo e oração da carta aos Gálatas.