A santificação consiste numa entrega “de corpo e alma” no compromisso de construir com Cristo o Reino de amor, justiça e paz para todos, ensina o Papa Francisco na exortação apostólica “Gaudete et exsultate”, sobre o chamado à santidade no mundo atual. Irmã Dulce dos Pobres, que será canonizada no próximo domingo, tem em sua história este esforço de doação ao projeto de Jesus.
Em visita ao Brasil para participar do II Congresso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o prefeito da Congregação para a Causa dos Santos da Santa Sé, cardeal Giovanni Angelo Becciu, falou sobre o exemplo da nova santa brasileira.
Becciu recorda a entrega aos mais necessitados, aos enfermos e o impressionante fato de transformar o galinheiro do convento em enfermaria como manifestações desse cuidado. “Isto significa que o amor para os pobres nascia do amor a Deus. O que ama a Deus não pode fechar-se a si mesmo”, afirmou.
Também ganha relevo o sofrimento físico que acompanhava irmã Dulce. “Ela viveu com grande amor e serenidade esse sofrimento de onde apareceram suas virtudes heroicas de fé, de esperança e de amor. Mesmo com esse seu sofrimento, estava sempre aberta a escutar o sofrimento dos outros”, comenta o cardeal.
Na exortação apostólica sobre o chamado à santidade, o Papa Francisco recorda que nos processos de beatificação e canonização, “tomam-se em consideração os sinais de heroicidade na prática das virtudes, o sacrifício da vida no martírio e também os casos em que se verificou um oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à morte”. E continua o Papa: “Esta doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos fiéis”.
Para o cardeal Becciu, é esta admiração que faz com que os processos de canonização cheguem à Santa Sé. “A canonização não é uma imposição da Igreja, é um pedido do povo. Apenas acolhemos ou não uma expressão de santidade que está no meio do povo e cuja notícia chegou até Roma. É o povo de Deus que o quer santo. A fama foi tal que chegou à Roma. Até por isso que existe a fase na diocese e só depois o caso vai para Roma”, explicou durante o Congresso Teológico, em Porto Alegre (RS).
“A igreja reconhece a importância do culto, do exemplo e da intercessão. A santidade sustenta a esperança dos fiéis apresentando a eles modelos. Embora só Deus realize os milagres, precisamos destes modelos de fé ainda hoje”, pontuou na ocasião.
Ainda sobre irmã Dulce, o cardeal ainda destacou a multidão de pessoas pobres que acompanhou os funerais da futura santa: “porque percebia esse amor que tinha para os mais necessitados”.
Aos brasileiros, “instintivamente alegres”, cardeal Giovanni Becciu deseja que “a alegria natural que têm os brasileiros possa encontrar confirmação no Evangelho, que lhes pode dar mais sustância, mais alegria que não seja só uma alegria exterior, mas uma alegria que vem do profundo do coração”. Para o prefeito da Congregação que analisa os processos de beatificação e canonização, viver o evangelho, as bem-aventuranças dá fundamento e sentido à alegria natural que os brasileiros têm, “que manifestam dessa maneira muito espontânea”.
Sobre a relação deste chamado à santidade com a marcante desigualdade social do país, o purpurado recorda o pontífice: “O Papa Francisco diz que a verdadeira misericórdia é comprometer-se a lutar contra as desigualdades sociais, porque não podes fechar os olhos diante do sofrimento dos seus irmãos. Deves comprometer-se”.