DIMENSÃO ECOLÓGICA DA EUCARISTIA – dom Edson de Castro Homem

A matéria da qual é feita a Eucaristia se obtém da criação em colaboração com o trabalho humano. A matéria é pão e é vinho que decorrem da água, da terra, do trigo, da uva e de tudo que eles contêm. Inclusive supõem o ar e o clima. Sem a matéria e a ação do Espírito de Deus não há sacramento. Que beleza!

A simbologia e a realidade sacramentais são ricas de colaboração entre o Criador e o homem e a mulher, ápice de todo o criado. Pela liturgia eucarística, damos voz à natureza criada para louvar ao Pai por Cristo e no Espírito. Realizamos o “sacrifício de louvor” conforme reza o Cânon Romano, de modo sublime, na mediação do Espírito.

Já na Apresentação das Ofertas, o simbolismo ecológico é evidenciado enquanto “fruto da terra, da videira e do trabalho humano”. A gota d´água no vinho indica a nossa participação na divindade de Cristo que assumiu nossa humanidade. Aquele pelo qual tudo foi feito nos assume ao encarnar-se e ao se doar a nós na Eucaristia. Mistério de Comunhão! É a própria expressão sacramental da graça: Deus que faz morada em nós.

Titus Kieninger, comentando Santo Tomás, diz: “a criatura mais perfeita assimila e se incorpora as criaturas inferiores das quais se alimenta e se sustenta. As plantas assimilam os minerais e a água, e os animais as plantas, e os homens as plantas e animais; de modo que, logicamente, nós pela Santa Comunhão com Cristo seremos incorporados nele”. Com Ele e nele, nosso ofertório significa a oblação do universo.

Bento XVI, na Exortação Sacramentum Caritatis afirma que “para desenvolver uma espiritualidade eucarística profunda, capaz de incidir no tecido social, é necessário que o povo cristão, ao dar graças por meio da Eucaristia, tenha consciência de o fazer em nome da criação inteira, aspirando assim à santificação do mundo e trabalhando intensamente para tal fim” (n. 92).

A vivência eucarística igualmente facilita a valorização do sentido ético do cuidado pela Casa Comum, como aprecia chamar o Papa Francisco. Incorpora-nos à ética da responsabilidade pelo meio ambiente e pelo tecido social para que entreguemos às gerações futuras um mundo melhor, mais habitável, com menos poluição e intoxicação.

São João Paulo II afirmou que a “cultura da Eucaristia” “promove a cultura do diálogo, que nela encontra força e alimento” (In: Mane nobiscum Domine, n. 26 b). Ela é “também projeto de solidariedade para a humanidade toda”, “escola de paz, onde se formam homens e mulheres que, nos vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural, política, se fazem construtores de diálogo e de comunhão” (Id., n. 27). Um dos níveis de responsabilidade é o empenho pela Ecologia Integral para a qual o Papa Francisco aponta nossa conversão ecológica, ou seja, uma mudança de mentalidade.

O brasileiro sem ter se recuperado das mortes e do desastre ambiental, provocados pelo rompimento da Barragem de Brumadinho, foi surpreendido pelos incêndios na floresta amazônica e, logo a seguir, se depara com o óleo da morte que invade os mares e a areia das praias nordestinas. Tal desastre é também econômico para pescadores e os que vivem do turismo. Faz-nos recordar o “apelo” do Papa Francisco, na Laudato Si`: “a terra que recebemos pertence também àqueles que hão de vir” (n. 159). Que nossa vivência eucarística nos comprometa na defesa de nossos biomas, na terra e nas águas!