A Comissão Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano divulgou, neste dia 29 de julho, um Carta Pastoral, por ocasião do Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, celebrado amanhã, dia 30. No documento, os representantes da Comissão reiteram seu compromisso no enfrentamento à realidade do tráfico de pessoas e conclamam a sociedade brasileira a empenhar-se em identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las como caminho para a superação desta violação da dignidade humana. Confira, abaixo, a íntegra do documento.
CARTA PASTORALBrasília-DF, 29 de julho de 2019
“O tráfico de pessoas é uma ferida aberta
no corpo da Humanidade contemporânea,
uma chaga na carne de Cristo”.
Papa Francisco
A Igreja do Brasil, por meio da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), reitera neste dia 30 de julho – Dia Mundial contra o tráfico de pessoas – seu compromisso no enfrentamento desta realidade criminosa que ceifa a vida e os sonhos de milhares de pessoas em todo o planeta.
“É Para a Liberdade que Cristo nos libertou”. Gl 5,1
Desde 2014, com a Campanha da Fraternidade contra o Tráfico Humano, a Igreja do Brasil afirma que “o tráfico humano é um crime que atenta contra a dignidade da pessoa, pois explora o filho e a filha de Deus, limita suas liberdades, despreza sua honra, agride seu amor próprio, ameaça e subtrai sua vida, quer seja da mulher, da criança, do adolescente, do trabalhador ou da trabalhadora”. Esta deplorável conduta explora e atenta contra a dignidade “de cidadãs e cidadãos que, fragilizados por suas condições de vulnerabilidades se tornam alvos fáceis para as ações criminosas de traficantes”.
Infelizmente esta chaga social, que ultrapassa fronteiras, segue fazendo vítimas milhões de pessoas em praticamente todos os países do mundo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), braço da ONU, as estatísticas mundiais falam de 40 milhões de seres humanos no mundo, 1,8 milhão na América Latina, sendo 1/3 de crianças. O Brasil se insere neste triste cenário como país de origem, trânsito e destino como responsável por 15% das vítimas na América latina. Esta realidade nos convoca a uma reação e ação firme de denúncia e intervenção solidária, político e profética.
O Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, motivado pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Campanha Coração Azul objetiva sensibilizar e mobilizar as pessoas no combate a esta forma moderna e atual de escravatura. Não é dia de comemoração, é um dia para dar visibilidade, resistir, sensibilizar, conscientizar, chamar atenção para esta realidade e sobretudo exigir dos Estados/Nações politicas públicas que garantam as ações de prevenção, assistência e responsabilização dos traficantes e exploradores.
A realidade política do país vai se deteriorando com a retirada de direitos, restrição das políticas públicas de garantias de direitos humanos, com corte dos orçamentos e redução dos espaços de controle social – conselhos, fóruns, comissões e outras formas de participação social. Neste contexto, as atitudes criminosas e lesivas à dignidade e à vida das pessoas tendem a aumentar cada vez mais, ampliando as situações de vulnerabilidades das populações, especialmente, povos indígenas, afrodescendentes, mulheres, juventudes e crianças.
O grito de milhões de migrantes e refugiados que ecoam em todo o planeta têm sido alvo das redes de traficantes. Redes estas que se aproveitam da vulnerabilidade e das necessidades urgentes das pessoas, expondo-as como alvos fáceis para a exploração. Além disso, conflitos armados e crises humanitárias sujeitam as pessoas a um maior risco de serem traficadas para exploração sexual, trabalho forçado, remoção de órgãos, servidão e outras formas de exploração.
Conclamamos a todas e todos, sociedade, igrejas, as mais diversas instituições, a somarem sua força e atuação nesta causa que é comum a todos nós, filhos e filhas de Deus, responsáveis pelo cuidado uns dos outros e outras.
Irmãos e irmãs, concluímos com as palavras do Papa Francisco: “Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?”, Gn 4, 9.
Onde está o teu irmão escravo?
Onde está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas por que não foi regularizado? Não nos façamos de distraídos! Há muita cumplicidade… A pergunta é para todos!”
Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano