PÁSCOA E A ESPERANÇA CRISTÃ

Dom Severino Clasen

Arcebispo de Maringá (PR)

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18).

Em pleno Tríduo Pascal, iniciamos o mês de abril com esperança. Vivemos em tempos sombrios, desolados, retraídos, com medo. Alimentamos a esperança no Senhor que dá a vida. Ele institui o sacramento da caridade, lava os pés dos discípulos, reafirma o mandamento do amor, a caridade. Nestes três dias antes da Páscoa, Jesus revela o caminho para a Ressurreição: dispersão da humanidade, as falsas notícias, a hipocrisia dos fundamentalistas, negacionistas do tempo, dos moralistas que o levaram ao suplício da Cruz para não tocar nos conceitos e práticas hipócritas no Templo, que deveria ser a casa de Deus.

Depois do ensinamento do amor, confirmado na Instituição do Sacerdócio e Eucaristia, chama-nos para a vida em plenitude, presenteia-nos com sua Ressurreição na manhã do primeiro dia. Páscoa, superação da traição, da morte, retorno ao amor a Deus, ao próximo e esperança de vida eterna, ressurreição, certeza da vida definitiva em Deus.

No mistério pascal, o cristão vive no seu dia a dia de discipulado no Senhor. Para fortalecer o vínculo com o Senhor Ressuscitado, a Arquidiocese de Maringá está a caminho de assumir a Iniciação à Vida Cristã com inspiração catecumenal. A esperança está depositada em propor a mística da unidade, da colegialidade de nossas ações evangelizadoras nesta Igreja particular. Ao redor de Jesus Cristo Ressuscitado, retomemos o processo do seguimento que nos conduz na caminhada dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), ao caminhar juntos, o Senhor esclarecia os passos da Sagrada Escritura, abre-lhes a mente, caminha com eles, parte o pão e se dá a eles. Neste gesto, partilhar o pão, está prefigurada a Eucaristia. Os discípulos, com o coração alimentados e aquecidos, O reconheceram e voltaram para testemunhar o que tinham visto, sentido e experimentado.

Queremos que os cristãos e cristãs façam a mesma experiência, caminhar com Jesus e experimentar sua presença, seu calor abrasador, aquecer os corações para construir um mundo de fraternidade, de unidade e de paz, “do que era dividido, Cristo fez uma unidade” (Ef 2,14).

A experiência iniciática, nos esclarece quem é Jesus de Nazaré, o que ele veio fazer e o que prometeu. Em contrapartida, pede de nós o amor ao próximo, o cuidado com os doentes, viúvas e pobres, espera mentes arejadas, participativa, em comunhão com as responsabilidades sociais, familiares, eclesiais.

Nossa fé é vida na família, na sociedade e na Igreja. Não somos ilhados, isolados, excluídos, privilegiados. Juntos somos chamados a construir um mundo mais justo e acolhedor.

Devemos assumir os compromissos de fé em sinal de comunhão e responsabilidade. Dou apenas um exemplo, a participação nas exigências da vida social; os frutos da Eucaristia convocam-nos a participar na discussão dos pedágios em nossas rodovias na nossa região. Não é possível aceitar contratos unilaterais onde alguns se enriquecem abusivamente enquanto os pobres, os sofredores os trabalhadores devem pagar a conta. Fé e vida caminham juntas. A fé nasce do Ressuscitado. Ele deu a vida, os homens tiraram a sua vida no alto da Cruz, Deus devolveu a vida. E a vida é dada a todos nós para vivermos em harmonia na sociedade.

Que não nos desesperemos neste tempo de pandemia. Já foi um ano de angústias e de perdas imensuráveis em milhares de famílias. Não podemos admitir que pessoas responsáveis em nenhum momento se dirigiu ao povo trazendo palavras de conforto, apenas provocações e descrédito, dando mal exemplo no cuidado e na disciplina para evitar contágios e mortes.

Que Nossa Senhora da Glória nos cubra com seu manto sagrado, que a vacina, a grande ferramenta para superar o coronavírus, não esteja na disputa de ideologias e de governos irresponsáveis e omissos. Nossas preces para as pessoas que perderam a vida por causa do Covid-19.

Que o Santo Espírito nos ilumine e nos una na construção de um mundo mais justo, acolhedor e fraterno.