A Natividade

Dom Edson de Castro Homem

Bispo Emérito de Iguatu

A Igreja celebra a festa da Natividade de Nossa Senhora, dia 8 de setembro.  A festividade teve início no Oriente como quase todas as principais festas marianas. No Ocidente, o Papa Sérgio (667-701) ordenou que fossem celebradas em Roma: Anunciação, Assunção, Natividade e Purificação. Portanto, a Natividade é bem antiga. Pode ser ainda mais anterior, se considerarmos que ela é citada no Martirológio Hieronyianum de Auxerres, do ano 600.

É desconhecido o lugar do nascimento.  Uma tradição muito antiga afirma que teria sido em Nazaré, e isto foi aceito no Ocidente. Trata-se de clara influência do texto da Anunciação que diz: “o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada, Nazaré, a uma virgem… e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 26-27). Outra tradição aponta para Jerusalém, nas proximidades de Betesda, onde se venera uma cripta sob a igreja de Sant’Ana, mãe de Maria. Ali ela teria nascido.

A propósito, afirma o Padre Antônio Vieira com seu talento de orador sacro: “E celebrando o   mundo hoje o nascimento da maior Pessoa depois de Deus, que saiu à luz do mesmo mundo, o Evangelho que canta e nos propõe a Igreja Católica, nem do lugar, nem do tempo, nem dos pais de que nasceu faz memória ou menção alguma” (In: Sermão do Nascimento da Mãe de Deus). O tema do sermão é: Ela nasceu para que dela nascesse Jesus.

Em outra ocasião, o mesmo Vieira pronuncia um sermão feito de muita poesia e beleza e pouca teologia: “A aurora é o riso do céu, a alegria dos campos, a respiração das flores, a harmonia das aves, a vida e alento do mundo. Começa a sair o sol, eis o gesto do mundo e a composição da mesma natureza toda mudada. O céu acende-se: os campos secam: as flores murcham-se: as aves emudecem: os animais buscam as covas: os homens buscam as sombras” (In: Sermão do Nascimento da Virgem Maria). Hoje causaria estranheza, pois, a aurora parece (Maria) mais graciosa e benfazeja que o sol (Jesus). Trata-se de liberdade poética do orador.

É importante o nome que lhe deram. Quase profecia. Em hebraico Myriam, traduzido para o grego como Marian é o mesmo nome da irmã de Moisés. Embora haja divergências, a tendência é a de afirmar que significa a excelsa, a grandiosa. O nome diz respeito à pessoa e personalidade e à missão. Incomparável, excelsa e sublime missão de ser a Mãe do Messias!

Celebramos Nossa Senhora da Natividade como a aurora de nossa salvação, pois é o início do cumprimento das promessas messiânicas. Deus prometeu uma outra Eva cuja descendência esmagaria a cabeça da serpente: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre a tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 17).

Nossos sentimentos são de louvor, de ternura e de alegria à recém nascida cuja santidade encantou o Rei que a fez digna Mãe de seu Filho feito homem: Imaculada!!

“Cante e exulte toda a criação e contribua com algo digno para a alegria deste dia. É um só o júbilo dos céus e da terra; juntos festejem tudo quando está unido no mundo e acima do mundo. Pois hoje se construiu o templo criado do Criador de tudo, e pela criatura, de forma nova e bela, preparou-se nova morada para o seu Autor” (In: Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo, séc. VIII).

Canta e exulta a Igreja na beleza de sua Liturgia. Com ela, há de se alegrar cada um de nós.