Nesta noite Santa do Natal do Senhor, só a Igreja reunida em solene liturgia pode nos ajudar a reconhecer e celebrar o verdadeiro sentido do Natal; apenas ouvindo a Palavra de Deus e nos colocando diante da manjedoura celeste que se faz presente no altar da Eucaristia, é que celebraremos de forma autêntica a memória desse acontecimento que marcou profundamente a história da humanidade e coroou toda a obra da Criação. O grande desafio desta noite é desvencilhar-se de toda superficialidade que muitas vezes domina nossa sociedade que, apesar de já há algum tempo falar de preparação para o Natal, hoje se encontra distante do seu real motivo e fundamento.
Vivemos a grande ironia e contradição: fala-se de Natal, mas deliberadamente não se quer falar de quem esse Natal é. Urge fazer um chamado à autenticidade: não se deixar seduzir apenas pelo excesso de decorações luminosas, pelo consumismo ou pelos personagens que tentam ocupar o lugar do Menino Jesus, mas voltar o coração para o essencial: o nascimento do Salvador, pois sem Ele não haveria Natal.
Assim como no primeiro natal se verificou um confronto entre o anúncio da salvação e o decreto de dominação do imperador, ainda hoje enfrentamos o grande desafio: discernir a quem e a que obedecermos.
“Aconteceu naqueles dias, César Augusto, publicou um decreto” (grego: dogma) cuja finalidade era o recenseamento para controlar e tributar. O poder imperial busca apenas dominar, reduzindo as pessoas a números, e mantém sua força pela opressão. Diante disso o anjo do Senhor anuncia: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria… Nasceu para vós um Salvador”. O Natal é apresentado como resposta à tirania dos poderes humanos, lembrando que a verdadeira libertação vem de Cristo. O evangelho não é controle, mas boa notícia de alegria para todo o povo. Deus entra na história para libertar.
“Maria e José foram registrar-se em Belém”: não apenas obedecem a César, mas cumprem o desígnio divino: ali nascerá o Pastor que vai dar a vida por suas ovelhas, como cordeiro silencioso diante dos tosquiadores.
O caminho até Belém simboliza a coragem de sair das rotas fáceis e buscar o sentido verdadeiro da fé; Belém (em hebraico, casa do pão), além de ser a vilazinha das origens de Davi, aquele que antes de ser rei, é pastor, carrega um significado profético que anuncia que ali nascerá Aquele que será o Bom Pastor e se fará pão para alimentar o mundo. Belém também é o lugar onde Raquel chorou e chamou seu filho de “filho da dor” (Gn 35,18s); onde ela (Raquel, do hebraico: ovelha) morreu, nasce o Pastor que se entregará como cordeiro silencioso, cumprindo a profecia (cf. Is 53,7).
Enquanto para muitos “arautos” do tempo do Natal o que mais conta é garantir o maior número de consumidores fidelizados, o lucro que obtiveram e como sanar os eventuais prejuízos, a boa notícia do Natal reafirma que o ser humano, reduzido a “número” e a “consumidor”, tem uma dignidade e que só o dom da salvação pode lhe dar a completa realização e felicidade.
Contudo, é preciso obedecer a ordem do anjo: “Ir a Belém”; é um chamado à interioridade para contemplar o mistério da encarnação: “Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” — o Deus que se fez pequeno e humilde. Natal é reafirmação da centralidade de Cristo.
O Natal autêntico é um convite à conversão de rumos: trocar o caminho das vitrines pelo caminho da manjedoura, onde encontramos não luxo, mas Deus feito vulnerabilidade. É ali que aprendemos que a verdadeira alegria nasce do dom de si, e não da acumulação de coisas. O Natal, quando celebrado em sua essência, nos liberta do consumo e das distrações alienantes, e nos faz tomar o caminho espiritual até Belém — o lugar onde Deus se revela na fragilidade de uma criança e na humildade de uma manjedoura. O Natal inaugura um tempo novo: somos chamados a acolher Jesus e viver iluminados pelo evangelho: “A glória do Senhor os envolveu em luz”. A verdadeira liberdade não vem da força dos poderosos, mas da humildade de Deus que se faz criança para nos salvar.
A presença dos pastores, os primeiros aos quais se dirige a boa-nova do nascimento de Jesus, evidencia a missão primordial daquela criança: o Messias é apresentado como Rei-pastor, aquele que guia, protege e liberta suas ovelhas. Diferente dos reis terrenos que exploram, Jesus se coloca como servidor, cuidando do rebanho. A pastoralidade é também proximidade: Ele está junto, conhece pelo nome, e conduz à liberdade.
A conclusão da cena do primeiro Natal profetiza o que será o definitivo da história: a glória de Deus e a paz entre os homens. O cântico dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra” — mais do que uma frase litúrgica, tornou-se ao longo da história, um manifesto contra a lógica dos impérios que oprimem e tiram a paz. Por outro lado, a paz que Cristo traz não é a “pax romana” imposta pela força, mas a paz verdadeira, fruto da reconciliação e do amor.
O Natal, portanto, é um ato de Deus que derruba as trevas e inaugura uma nova forma de viver: ser semelhante a Ele na humildade e no serviço. Portanto, não sigamos apenas as estradas iluminadas dos shoppings ou resorts. Tenhamos a coragem de fazer a estrada para Belém — a casa do pão, onde Deus se revela na simplicidade de uma manjedoura.
Que este Natal nos conduza ao encontro do Deus feito criança, para que, alimentados por Ele, possamos ser pão e esperança uns para os outros.
Celebrar o Natal é deixar que Belém se torne dentro de nós uma casa de pão e vida, onde aprendemos que a verdadeira alegria não está nas coisas que acumulamos, mas no dom que oferecemos.
Vivemos a grande ironia e contradição: fala-se de Natal, mas deliberadamente não se quer falar de quem esse Natal é. Urge fazer um chamado à autenticidade: não se deixar seduzir apenas pelo excesso de decorações luminosas, pelo consumismo ou pelos personagens que tentam ocupar o lugar do Menino Jesus, mas voltar o coração para o essencial: o nascimento do Salvador, pois sem Ele não haveria Natal.
Assim como no primeiro natal se verificou um confronto entre o anúncio da salvação e o decreto de dominação do imperador, ainda hoje enfrentamos o grande desafio: discernir a quem e a que obedecermos.
“Aconteceu naqueles dias, César Augusto, publicou um decreto” (grego: dogma) cuja finalidade era o recenseamento para controlar e tributar. O poder imperial busca apenas dominar, reduzindo as pessoas a números, e mantém sua força pela opressão. Diante disso o anjo do Senhor anuncia: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria… Nasceu para vós um Salvador”. O Natal é apresentado como resposta à tirania dos poderes humanos, lembrando que a verdadeira libertação vem de Cristo. O evangelho não é controle, mas boa notícia de alegria para todo o povo. Deus entra na história para libertar.
“Maria e José foram registrar-se em Belém”: não apenas obedecem a César, mas cumprem o desígnio divino: ali nascerá o Pastor que vai dar a vida por suas ovelhas, como cordeiro silencioso diante dos tosquiadores.
O caminho até Belém simboliza a coragem de sair das rotas fáceis e buscar o sentido verdadeiro da fé; Belém (em hebraico, casa do pão), além de ser a vilazinha das origens de Davi, aquele que antes de ser rei, é pastor, carrega um significado profético que anuncia que ali nascerá Aquele que será o Bom Pastor e se fará pão para alimentar o mundo. Belém também é o lugar onde Raquel chorou e chamou seu filho de “filho da dor” (Gn 35,18s); onde ela (Raquel, do hebraico: ovelha) morreu, nasce o Pastor que se entregará como cordeiro silencioso, cumprindo a profecia (cf. Is 53,7).
Enquanto para muitos “arautos” do tempo do Natal o que mais conta é garantir o maior número de consumidores fidelizados, o lucro que obtiveram e como sanar os eventuais prejuízos, a boa notícia do Natal reafirma que o ser humano, reduzido a “número” e a “consumidor”, tem uma dignidade e que só o dom da salvação pode lhe dar a completa realização e felicidade.
Contudo, é preciso obedecer a ordem do anjo: “Ir a Belém”; é um chamado à interioridade para contemplar o mistério da encarnação: “Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” — o Deus que se fez pequeno e humilde. Natal é reafirmação da centralidade de Cristo.
O Natal autêntico é um convite à conversão de rumos: trocar o caminho das vitrines pelo caminho da manjedoura, onde encontramos não luxo, mas Deus feito vulnerabilidade. É ali que aprendemos que a verdadeira alegria nasce do dom de si, e não da acumulação de coisas. O Natal, quando celebrado em sua essência, nos liberta do consumo e das distrações alienantes, e nos faz tomar o caminho espiritual até Belém — o lugar onde Deus se revela na fragilidade de uma criança e na humildade de uma manjedoura. O Natal inaugura um tempo novo: somos chamados a acolher Jesus e viver iluminados pelo evangelho: “A glória do Senhor os envolveu em luz”. A verdadeira liberdade não vem da força dos poderosos, mas da humildade de Deus que se faz criança para nos salvar.
A presença dos pastores, os primeiros aos quais se dirige a boa-nova do nascimento de Jesus, evidencia a missão primordial daquela criança: o Messias é apresentado como Rei-pastor, aquele que guia, protege e liberta suas ovelhas. Diferente dos reis terrenos que exploram, Jesus se coloca como servidor, cuidando do rebanho. A pastoralidade é também proximidade: Ele está junto, conhece pelo nome, e conduz à liberdade.
A conclusão da cena do primeiro Natal profetiza o que será o definitivo da história: a glória de Deus e a paz entre os homens. O cântico dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra” — mais do que uma frase litúrgica, tornou-se ao longo da história, um manifesto contra a lógica dos impérios que oprimem e tiram a paz. Por outro lado, a paz que Cristo traz não é a “pax romana” imposta pela força, mas a paz verdadeira, fruto da reconciliação e do amor.
O Natal, portanto, é um ato de Deus que derruba as trevas e inaugura uma nova forma de viver: ser semelhante a Ele na humildade e no serviço. Portanto, não sigamos apenas as estradas iluminadas dos shoppings ou resorts. Tenhamos a coragem de fazer a estrada para Belém — a casa do pão, onde Deus se revela na simplicidade de uma manjedoura.
Que este Natal nos conduza ao encontro do Deus feito criança, para que, alimentados por Ele, possamos ser pão e esperança uns para os outros.
Celebrar o Natal é deixar que Belém se torne dentro de nós uma casa de pão e vida, onde aprendemos que a verdadeira alegria não está nas coisas que acumulamos, mas no dom que oferecemos.
Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana








