Nesta Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, a Igreja nos convida a fixar o olhar naquele mistério que está no coração do Natal: o Filho eterno de Deus se fez homem, e porque Ele se fez homem, nasceu de uma mulher. Por isso, hoje proclamamos com alegria: Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Essa verdade não é um título poético, nem uma homenagem tardia da devoção cristã. É uma consequência direta do Evangelho. Quando os anjos anunciaram aos pastores: “Nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor”, eles afirmaram que aquele menino frágil, envolto em faixas, é o próprio Deus que entrou na nossa história. E se Ele é Deus, então a mulher que O gerou é Mãe de Deus. A Igreja não inventou isso; ela apenas reconheceu o que Deus realizou. Maria não é mãe de uma “parte humana” de Jesus, como se Ele fosse dividido. Ela é mãe da Pessoa inteira que nela se encarnou: o Verbo eterno, o Filho do Altíssimo. Assim como uma mãe não é mãe apenas do corpo do filho, mas da pessoa inteira, Maria é Mãe do Deus feito carne.
E aqui está a beleza do mistério: Deus não nasceu de uma deusa, mas de uma mulher (Gl 4,4). Ele não veio ao mundo envolto em glória, mas envolto em faixas. Não apareceu adulto e poderoso, mas pequeno, dependente, necessitado de cuidados. O Todo-Poderoso quis precisar de uma mãe. O Criador quis ser carregado nos braços de uma criatura. Aquele que sustenta o universo quis ser sustentado no colo de Maria. Ao contemplarmos Maria como Mãe de Deus, contemplamos também a humildade de Deus. Ele não teve vergonha de assumir a nossa carne, a nossa fragilidade, a nossa história. Ele quis ter um rosto humano, e esse rosto foi moldado no ventre de Maria. Por isso, celebrar Maria é celebrar o agir do próprio Deus que se fez próximo. É celebrar o Deus que entra na nossa vida pelo caminho mais humano possível: o nascimento.
“Os pastores foram às pressas a Belém”: O evangelho apresenta os pastores indo a Belém como um dos momentos mais humanos e, ao mesmo tempo, mais divinos da narrativa cristã. Eles não eram teólogos, não tinham prestígio, não estavam “preparados” no sentido intelectual. Eram pessoas simples, mas com o coração desperto o suficiente para reconhecer que o anúncio do anjo merecia ser levado a sério (“foram às pressas”). Esse movimento — ouvir, levantar-se e ir ao encontro — é a essência da fé viva.
“Encontraram o recém-nascido envolto em faixas, deitado na manjedoura”: esta cena é, ao mesmo tempo, humilde e reveladora. O anúncio do anjo não aponta para algo extraordinário aos olhos do mundo, mas para um Deus que se deixa encontrar na vulnerabilidade. Recuperar essa simplicidade hoje é quase um ato de resistência espiritual, porque vivemos cercados de excessos, ruídos e espetacularizações. A leitura Patrística interpreta as faixas como símbolo das Escrituras que envolvem e revelam o Verbo. A Dei Verbum retoma exatamente essa lógica — o Antigo como preparação e o Novo como plenitude: “Deus dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo” (DV 16). É como se o Menino estivesse “embrulhado” na história da salvação que o precede. Lucas faz esse movimento literário com muita intenção. As faixas do nascimento e o lençol da sepultura criam um arco narrativo que une Belém ao Calvário. O Evangelho inteiro é atravessado por essa lógica: o nascimento já aponta para a entrega, e a entrega abre caminho para a vida nova. O encontro com Cristo é sempre pascal.
“Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”: Maria, por sua vez, nos ensina a atitude fundamental do discípulo: guardar e meditar; ela não compreendeu tudo de imediato, mas acolheu tudo com fé. Ela não controlou a obra de Deus; ela se deixou conduzir por Ele. Não há encontro autêntico com o Senhor sem atravessar toda a sua história — encarnação, vida, morte e ressurreição. É um caminho iluminado pela Palavra, não por sentimentalismos ou reduções. A simplicidade do sinal não significa superficialidade; significa profundidade acessível.
E aqui está a beleza do mistério: Deus não nasceu de uma deusa, mas de uma mulher (Gl 4,4). Ele não veio ao mundo envolto em glória, mas envolto em faixas. Não apareceu adulto e poderoso, mas pequeno, dependente, necessitado de cuidados. O Todo-Poderoso quis precisar de uma mãe. O Criador quis ser carregado nos braços de uma criatura. Aquele que sustenta o universo quis ser sustentado no colo de Maria. Ao contemplarmos Maria como Mãe de Deus, contemplamos também a humildade de Deus. Ele não teve vergonha de assumir a nossa carne, a nossa fragilidade, a nossa história. Ele quis ter um rosto humano, e esse rosto foi moldado no ventre de Maria. Por isso, celebrar Maria é celebrar o agir do próprio Deus que se fez próximo. É celebrar o Deus que entra na nossa vida pelo caminho mais humano possível: o nascimento.
“Os pastores foram às pressas a Belém”: O evangelho apresenta os pastores indo a Belém como um dos momentos mais humanos e, ao mesmo tempo, mais divinos da narrativa cristã. Eles não eram teólogos, não tinham prestígio, não estavam “preparados” no sentido intelectual. Eram pessoas simples, mas com o coração desperto o suficiente para reconhecer que o anúncio do anjo merecia ser levado a sério (“foram às pressas”). Esse movimento — ouvir, levantar-se e ir ao encontro — é a essência da fé viva.
“Encontraram o recém-nascido envolto em faixas, deitado na manjedoura”: esta cena é, ao mesmo tempo, humilde e reveladora. O anúncio do anjo não aponta para algo extraordinário aos olhos do mundo, mas para um Deus que se deixa encontrar na vulnerabilidade. Recuperar essa simplicidade hoje é quase um ato de resistência espiritual, porque vivemos cercados de excessos, ruídos e espetacularizações. A leitura Patrística interpreta as faixas como símbolo das Escrituras que envolvem e revelam o Verbo. A Dei Verbum retoma exatamente essa lógica — o Antigo como preparação e o Novo como plenitude: “Deus dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo” (DV 16). É como se o Menino estivesse “embrulhado” na história da salvação que o precede. Lucas faz esse movimento literário com muita intenção. As faixas do nascimento e o lençol da sepultura criam um arco narrativo que une Belém ao Calvário. O Evangelho inteiro é atravessado por essa lógica: o nascimento já aponta para a entrega, e a entrega abre caminho para a vida nova. O encontro com Cristo é sempre pascal.
“Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”: Maria, por sua vez, nos ensina a atitude fundamental do discípulo: guardar e meditar; ela não compreendeu tudo de imediato, mas acolheu tudo com fé. Ela não controlou a obra de Deus; ela se deixou conduzir por Ele. Não há encontro autêntico com o Senhor sem atravessar toda a sua história — encarnação, vida, morte e ressurreição. É um caminho iluminado pela Palavra, não por sentimentalismos ou reduções. A simplicidade do sinal não significa superficialidade; significa profundidade acessível.
“Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus”: É um momento muito simbólico: gente simples, tocada por uma revelação profunda, volta para a vida cotidiana transformada. Os pastores não abandonam suas responsabilidades. Eles retornam ao campo, às ovelhas, ao trabalho duro. Mas algo mudou: agora tudo é vivido com um novo olhar. O mesmo acontece conosco: encontrar Jesus não significa fugir da vida, mas viver a vida com sentido novo. O trabalho, a família, as lutas, as alegrias — tudo pode se tornar lugar de louvor. Eis o verdadeiro significado da liturgia: testemunhar o encontro com o Senhor que muda radicalmente a nossa vida, pois é o encontro com a salvação: “Deram-lhe o nome de Jesus (Deus salva), como fora chamado pelo anjo”. A celebração da Mãe de Deus é, antes de tudo, um reconhecimento das maravilhas realizadas por Deus na história da salvação. No centro dessas maravilhas está o mistério da Encarnação: o Filho eterno do Pai entrou no mundo, assumindo nossa humanidade, nascendo de Maria. Ao honrar Maria, reconhecemos a grandeza daquele que nela operou e realizou o ápice de sua obra — a vinda do Salvador ao mundo.

Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana







